Já aviso: o futuro não é só hype. Ele está sendo construído agora, por uma safra que junta ideia clara de jogo, gestão de grupo e fome por evolução. Peguei o seu texto de base (gostei muito do “futuro chegou” e dos arquétipos visionário tático / gestor de talentos / estrategista) e transformei num texto completo, do jeitinho que eu costumo publicar aqui.
Por que essa nova safra me empolga (meu critério)
O cenário do nosso futebol
Eu sinto que a conversa sobre “estagnação” no futebol brasileiro ganhou volume — e com razão em alguns contextos. Por muito tempo, insistimos nas mesmas fórmulas esperando resultados diferentes. Só que, nos últimos anos, começou a surgir uma geração de técnicos que não tem medo de estudar, testar, adaptar e criar com a nossa cara.

O que eu busco quando escolho nomes
Eu não monto lista por moda. Olho quatro coisas bem objetivas:
- Perfil dos treinadores — trajetória, coerência de carreira, capacidade de comunicação.
- Estratégias — princípios de jogo reconhecíveis com e sem a bola (pressão, amplitude, saída, bola parada).
- Resultados recentes — desempenho que vira ponto, campanha, taça ou salto competitivo.
- Futuro no futebol internacional — quanto o trabalho é transferível para outros mercados.
Como vou apresentar
Eu vou te mostrar três perfis que encaixam direitinho nos arquétipos do seu rascunho:
- O Visionário Tático (ideia de jogo envolvente e bem treinável);
- O Gestor de Talentos (formação, integração base-profissional e evolução individual);
- O Estrategista (leitura de jogo, ajuste fino e frieza em decisões).
Cada um com perfil, estratégias, resultados e projeção internacional.
André Jardine — o “Visionário Tático” que conquista espaços
Perfil (de formador a ganhador)
Eu enxergo o Jardine como aquele técnico que saiu do rótulo de “bom de base” para virar solução no profissional. Passou por processos estruturados, ganhou casca de vestiário e aprendeu a vencer sem abrir mão de ideia.
Estratégias (posse que progride, pressão que dói)
O time do Jardine costuma mostrar:
- Pressão pós-perda curtinha para recuperar alto e manter o rival sufocado;
- Amplitude com pontas e meias que pisam na área para atacar espaço;
- Saída apoiada (linha de passe curta, triangulações) que acelera quando encontra vantagem;
- Bola parada ensaiada — detalhe que decide jogo grande.
É um modelo propositivo, mas nada “estéril”: a posse serve para progredir, não para rodar sem ferir.
Resultados recentes (ideia que vira taça e sequência)

O que me atrai é a consistência: campanhas longas no topo, time reconhecível e jogo grande bem jogado. Mesmo quando o elenco muda, o padrão fica — sinal de processo bem treinado.
Futuro no futebol internacional (pronto para mercados médios/grandes)
Pelo pacote (metodologia + gestão + repertório), eu vejo o Jardine pronto para saltos: ligas competitivas do continente, MLS de topo e portas abertas em Portugal/Espanha de meio de tabela. É trabalho que se traduz.
Arthur Elias — o “Gestor de Talentos” com visão moderna
Perfil (formação, metodologia e palco de seleção)
Eu acompanho o Arthur desde o trabalho dominante em clube e o passo para contexto de seleção. O que me ganha é a metodologia: treino que explica o “o quê” e o “por quê”, criando jogadoras autônomas para decidir no campo.
Estratégias (pressão inteligente e amplitude que machuca)
No gramado, eu vejo:
- Pressão alta ajustável ao adversário (altura de bloco muda, o padrão não);
- Saída curta com meias que mudam o ritmo (atrai, solta e acelera);
- Amplitude bem marcada para abrir linha rival e infiltrar por dentro;
- Integração entre setores — distâncias curtas, apoios constantes e ataques coordenados ao espaço.
Resultados recentes (desempenho que vira confiança)
Além de desempenho, entrou taça no currículo recente, o que pesa demais para qualquer projeto de longo prazo. Em torneios de tiro curto, nota-se time competitivo, com plano A sólido e ajustes reais no plano B.
Futuro no futebol internacional (teto de Copa e mercado europeu)
Sendo direto: eu vejo o Arthur com teto de Copa do Mundo em seleção e, se optar por clubes, com mercado nas principais ligas do futebol feminino europeu. Repertório, gestão e cultura de treino o colocam num patamar raro.
Thiago Carpini — a ascensão do “Estrategista”
Perfil (trajetória, desafios e maturidade)
O Carpini é da safra que aprendeu apanhando e voltou melhor. Passou por contextos diferentes, absorveu pancada, errou, acertou — e amadureceu. Chegar a um projeto de estabilidade na elite é a chance de traduzir ideia em pontos.
Estratégias (organização, ajuste e bola parada)
O que espero ver — e já vi em bons recortes:
- Organização sem bola em 4-4-2/4-2-3-1, com encaixes curtos e proteção de área;
- Saída 2+2 (zagueiros + volantes), extremos disciplinados para esticar campo;
- Ataque ao meio-espaço com meia/“falso 9” infiltrando nas costas do lateral;
- Bola parada preparada para disputar jogo parelho.
Resultados recentes (consistência é a palavra)
Mais do que taças, o indicador aqui é sequência: série de jogos com mesma cara, leitura de contexto (adversário, gramado, calendário) e plano ajustado sem rasgar o modelo.
Futuro no futebol internacional (mercados intermediários no radar)
Se essa consistência aparecer numa temporada cheia, eu enxergo mercados intermediários de braços abertos: MLS, México, Portugal média. O salto depende de continuidade — e isso está ao alcance.
As 3 perguntas que mais recebo
1) “Promissor” vale para quem já ganhou título?
Vale. Promissor não é sinônimo de iniciante — é margem de crescimento. Eu considero promissor quem já provou em um contexto e mostra sinais claros de que pode replicar em cenários maiores (ou diferentes).
2) Por que incluir o futebol feminino nesse debate?
Porque o nível competitivo cresceu demais e a prancheta é prancheta em qualquer gramado. Metodologia, treino, modelo e gestão se transferem. Quando um técnico de seleção/clubes mostra padrão e resultado, ele entra no mesmo debate.
3) O que eu olho primeiro para “ler” um treinador em 15 minutos?
Três coisas:
- Sem a bola: altura do bloco, coberturas e distância entre setores.
- Saída de bola: quem dá linha, quem aproxima, quem estica.
- Bola parada: ofensiva e defensiva. Se tem padrão aqui, costuma ter no resto.